sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O telhado lá de casa.

É lá que eu sempre quero estar. De manhã subo lá, o sol que ainda não nasceu faz com  que as telhas estejam úmidas e geladas. Bom mesmo é acordar com aquele cheirinho de almoço fresco pegar um bom livro e ir correndo pro telhado, acredito que todos nós deveríamos ter um cantinho especial na casa, aquele que jamais trocaríamos por qualquer outro lugar do mundo, aquele que reproduz as sensações mais incríveis. É fim de tarde, é hora de passar no telhado lá de casa, pegar uma almofada grossa estender no meio da telha suja, observar a marca d´água do horizonte. Esperar aqueles típicos aviões passarem. Um, dois, três, ou quatro aviões queria começar observar todos eles até sumirem, até os olhos semicerrarem procurando-os... Para onde foram esses aviões? Por quê não me levaram? Eu quero ir também. Estar no meio de gente desconhecida, observar tudo lá de cima, inclusive o meu telhado, pequenino lá de cima, seria possível? Dentre tantas casinhas pequenas eu acharia o meu telhadinho? ... Estava eu, numa quarta feira caminhando pelos cantos chatos da minha casa procurando um lugar, um bom lugar para me esparramar ficar de bobeira falando asneira pra mim mesma, mas onde? na Cozinha? No quarto? Ah não, no quarto não pois as palavras ficariam presas pairando no ar entre as quatro paredes. No banheiro? Não, mas que raio de pessoa conversa no banheiro sozinha? (bem, eu sim mas não é assunto pra hoje) ...  Mas por que não no telhado sujo? Peguei minha almofada deixei os chinelos no cômodo da casa, quase que eu não me lembrava o caminho que me levava até o telhado velho. Papai já havia dito: ''Mas guria, não suba no telhado, muito menos deite nas telhas'' Eu sabia que não era legal, mas ficar sentada se sentindo infeliz não iria mudar nada. Maldito telhado sujo que me proporciona as melhores sensações do dia. Subi no telhado, passei pela parte azulejada da área, até chegar na parte áspera, e como era áspera. Eu não sei dizer por quê raios aquele telhado me deixava tão bem, tão livre, será que é por quê é o ponto mais alto da minha casa? O lugar onde eu conseguia enxergar toda a tigela de onde eu morava? E que baita tigela feia, essas casas comidas, mal terminadas são a escória dos meus olhos. Meus pobres olhos. Mas deitada no meio das telhas velhas a tigela sumia era só olhar para cima e esperar passar qualquer outro avião. Naquele baita tecido azul, pacífico, que baita céu. Os olhos que mal abrem pela luz forte do sol quente, o sol quente que deixa a pele ardendo e as coxas queimando, esquentando as telhas. Dói mas só de pensar em sair dali dói mais. É tipo o teu lugar particular? Saka? É o lugar sem frequentação, com exceção do meu pai que precisa sempre fazer alguma coisa no telhado. Eu costumo dizer que é o meu canto, e agora mais do que nunca. Eu vivia com a ideia de que queria mudar de casa, sair dali, para sempre e ir pra qualquer outro canto. Mas agora que eu descobri esse telhado eu não cogito essa ideia, acho que todos deveríamos ter nosso canto, ou nosso telhado, sabe quando tu quer sair do cômodo ? e quer um canto diferente, é dessa forma com o telhado lá de casa. Bom mas de qualquer forma hoje e mais do que nunca quando eu me sentir infeliz, escassa  eu vou subir pro telhado, e mais ainda, quando eu me sentir feliz, cheia de energia é ai que eu irei subir também.

Um comentário:

  1. Sensacional Gaby! Ja pensou em colocar seus pensamentos num livro? Fiquei me imaginando nesse telhado, observando o ceu... me deu uma paz... amei!!!

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